25/01/2014

a boa brisa soprou que vem aí bom tempo

Bom Tempo
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que o passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Do duro toda semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí
No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, a alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver a vida
Que eu pedi a Deus
- Chico Buarque -

23/01/2014

a arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
- Cecília Meireles -

21/01/2014

precisam de ar

Descubra seus versos, seus gestos, seus restos.
Dê mais espaço para as reticências, elas precisam de ar.
- Clarissa Corrêa -

amarela e branca

Tudo é questão de despertar sua alma.
- Gabriel García Marquez -

sou feliz nos detalhes

Essa coisa de ter razão pra ser feliz, acho meio fora de moda.
Não tenho razões.
Não tenho lugares.
Sou feliz nos detalhes.
Sou feliz de dentro para fora - não espero motivos.
- Michelle Trevisani -

17/01/2014

tempo, silêncio, hora de recomeçar.

A esperança me chama e eu salto a bordo como se fosse a primeira viagem.
Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto: qualquer sinal é um bom presságio. Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito: ando de olhos fechados mas não desisto.
A dor eventual é o preço da vida: passagem, seguro e pedágio.
- Lya Luft -

11/01/2014

não deixe para depois

Prepare surpresas.
Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas.
Reinaugure gestos de companheirismo.
Mas, não deixe para depois.
Depois é um tempo sempre duvidoso.
Depois é distante daqui.
- Ana Jácomo -

um doce olhar

um doce olhar by Odete de Paula
um doce olhar, a photo by Odete de Paula on Flickr.

A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.
- David Hume -

07/01/2014

metade

metade by Odete de Paula
metade, a photo by Odete de Paula on Flickr.

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
- Ferreira Gullar -

Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha

Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha: a possibilidade de recomeço está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos.
Não tem mistério, ela vem embrulhada com o papel bonito de cada instante novo, essa página em branco que olha pra gente sem ter a mínima ideia do que escolheremos escrever nas suas linhas.
O que é preciso mesmo é coragem para abrir o presente.
- Ana Jácomo -

brincando no azul da manhã

Naquele dia, fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado pra sempre.
Nem sei de quê.
- Mario Quintana -

janela do tempo

janela do tempo by Odete de Paula
janela do tempo, a photo by Odete de Paula on Flickr.

Debruçando no meu próprio ser,
olho para o grande horizonte.
Percebo o meu interior transfigurado
pelas lutas, os acontecimentos, as experiências, o aprendizado.
Vejo a fragmentação do tempo,
sinto profunda fadiga da vida,
que se apodera das pessoas de minha idade.
Há resistências, lutas, recolhimento e resignação.
No caminho da existência sou a própria janela.
A história do que fui e sou, flui,
os tabus se quebram,
alargam os espaços, venço o tempo,
sou o primeiro a descobrir
que não se é a pessoa que se pensa ser.
Neste processo, acabo sabendo quem eu sou,
é o que eu quero ser.
Dessa ambigüidade subjetiva,
consigo resgatar e assumir
com coragem a titularidade da vida, a eternidade.
_ Maury Rodrigues da Cruz - do livro "Recomeçando"

enquanto espero as respostas às minhas indagações,

enquanto espero as respostas às minhas indagações,
vivo ao sabor da correnteza dos acontecimentos
- Maury Rodrigues da Cruz -

vejo a ida, cores, formas, diversidade, segmentos

a vida,
o colorido,
o movimento,
o dia,
o azul,
o equilíbrio contante,
a natureza produzindo sons,
cantando a felicidade

banho de sol

banho de sol by Odete de Paula
banho de sol, a photo by Odete de Paula on Flickr.

Desaprender para aprender.
Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que,
para isso,
seria preciso nascer de novo,
mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.
Basta desaprender o receio de mudar
- Martha Medeiros -

dias de abandono

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Beleza Roubada